terça-feira, 4 de agosto de 2009

Saudosismo

Estava hoje, a tarde, deitado na rede, que balançava preguiçosamente, pra e pra cá, e comecei a lembrar de minha infância, dura, sofrida, sem regalias, sem mp-3, nem tv de plasma,ipod, computadores, video-ganes, na realidade nem tv tínhamos, o pouco que víamos era na casa do vizinho e em preto e branco.
Éramos eu, minha irmã mais velha e meu irmão mais novo, que já se foi, eu era o do meio, criados em Del Castilho, bairro do subúrbio do Rj e uma boa parte dela em Várzea das Moças, um recanto de Niterói, onde meus pais tinham um pequeno sítio.
A vida era dura para meus pais, Sr. Wilson saia cedo para arranjar o que dar para as três bocas famintas que o aguardavam e só voltava tarde, muito tarde e D. Stella dava o jeito dela em segurar todas as barras do dia-a-dia da casa e ainda fazia uns serviços de costura para aumentar a renda familiar.
Nossa vida era simples, sem muitos recursos, mas nunca faltou comida a mesa, podia sim ter controle, sem abusos, para não faltar logo mais.
Brincávamos soltos, como passarinhos, brincadeiras de crianças, barrile, em que nos encondíamos e alguém tinha de procurar, garrafão, mãe-na-rua, carniça,partidas memoráveis de volêi com rede de barbante e bola improvisada, não se tinha dinheiro na época para comprar uma bola de volêi, pera, uva ou maçã, passar anel, partidas de futebol de botão, e não eram brincadeiras só masculinas as meninas também participavam de algumas, todos soltos, alegres, sem medo de violência, bala perdida ou de algum tarado ou traficante que iria nos fazer algum mal
Medo mesmo, só do Vermelhão, nossa como eu corria de medo dele, deixa eu explicar, na época de carnaval, alguns adultos colocavam uma fantasia de um boneco enooorme, deveria ter uns três metros ou mais, como se fosse um boneco de Olinda de hoje, e a fantasia era de um diabo, todo vermelho, com chifre e rabo, daí o nome vermelhão e ele andava pelo bairro assustando as criança, como morávamos no térreo quando o vermelhão passava vinha e colocava a cabeça pela janela da sala, ia lá dentro nos assustar, como eu tremia.
Este era o nosso medo, uma vez por ano, e só alguns dias, no carnaval.
Na Várzea, lá no sítio, era menos preocupante ainda, saíamos de casa e andávamos soltos o dia todo, juntos com algumas crianças amigas moradoras de lá. Tomávamos banho de rio, nus, meninos e meninas, sem nenhuma preocupação de que alguém pode tentar fazer alguma coisa com alguém, e tomávamos nus para não molhar a roupa e a mãe não perceber que estávamos no rio, roubávamos frutas nos quintais, mesmo tenho um quintal cheio das mais diversas frutas, cajus, laranjas, tangerinas, manga, jamelão, nossa era tanta fruta que nos perdíamos, mas íamos comer nos quintais alheios, o sabor era diferente.
Eram passeios e mais passeios, explorando toda a região de bicicleta, pescando nos rios, fazendo farofa de peixe, as vezes de passarinho também, tudo improvisado, com ovo roubado de algum ninho, na lenha e lata de goiabada.
Peladas no campinho, sempre a tardinha.
Amassar macega, ah....como era bom, explico, chamávamos macega a uma trança de cipós que cresciam entre várias árvores menores, então subíamos nestas árvores e ficávamos pulando, como se fosse uma cama elástica até amassar aquilo. Passeios de cipó, nem se fala, quanto foram dados.
Alfredinho, Adelson, Nazaré, Paulinho, Vitor, Leninha, Rose, Beto, Zé Branco, Zé Preto, naquela época não era pejorativo chama-los assim, Manuel, Clidinho, João Carlos, Ninho, Edinho, Robertinho, Renato, Lucio, Paulo Gordo, Jorginho, Junior, Marquinhos, Isabel, Marilene, Willian, Faz-me-Rir, e tantos, e tantos outros, mas estes eram os mais chegados, com quem sempre estávamos juntos.
O tempo foi passando, a infância se perdendo, crescemos, mudamos nossos focos, a vida se encarrega de separar estas fases.
Casa, filhos, descasa, casa de novo, descasa novamente, e nunca deixa de sonhar.
Não sei nem porquê estou escrevendo, mas me deu vontade de rever algumas fases de minha vida, fase boa, fase dourada, fase em que a preocupação maior era não se preocupar.
Hoje se um filho, já adulto, sai de casa para dar uma volta a noite, são tantas recomendações, quando chegar me liga, leva o celular, tá carregada a bateria?, tantas preocupações, tantos medos que nos colocaram nesta vida moderna que nem sei, ou melhor sei sim....................que saudades do vermelhão.

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