Metades
Meu coração
Se dividiu em dois
Metade foi ao chão
A outra voou depois
Não sabia a quem seguir
Me deixei no meio termo
Não consegui do chão sair
Nem mesmo voar a esmo
E fui me deixando
Neste mundo meio mundo
Aos poucos me enterrando
Indo cada vez mais fundo
Onde vou me segurar?
Como sair deste buraco?
Como vou reanimar?
Meu coração já está fraco
Vem me socorrer
Eu te peço por favor
Senão eu vou morrer
Carregando este amor.
Desejos
Queria poder dividir
Com você aquilo que sinto
Para me ver fluir
E sair deste labirinto
Dividir parte de peso
Que nas costas aqui carrego
Deixar de me sentir preso
Naquilo que tanto nego
Poder andar no tempo
Sem culpa ou ansiedade
Buscar um pouco de alento
No colo de uma saudade
Fugir do que não tenho
Correr do que não vejo
Matar o que detenho
Na forma de grande beijo
Estranhas sensações
Que não dá para esconder
São contidas emoções
Que não irão desaparecer.
Mordaça
O que brotou foi um gemido
Longo e profundo
Como se fosse um grito
Que nasce lá do fundo
Representava uma dor
Ou uma incompreensão
Seja lá o que for
Dói muito no coração
E não há como lutar
E não há nada o que fazer
Só me resta aguentar
E esperar adormecer
É por demais sufocante
Espreme o que há no peito
Como a mão de um gigante
Que destrói o meu defeito
Este grito abafado
Carregando uma lembrança
Tem de ser bem guardado
No meu pote da esperança.
Divergências
Tem gente que eu gosto
Tem gente que eu tolero
Tem coisas que eu posto
Tem coisa que não entrego
Esta miscelânea confusa
Com gente tão diferente
Transforma a vista difusa
Em ver tão claramente
Separamos o joio do trigo
Filtramos o que nos agrada
Vemos quem é amigo
E quem só está na estrada
Temos decepções
Mas também tem alegria
Irritamos corações
Como se fosse alergia
Uns poucos nos compreendem
Outros poucos compreendemos
Uns conosco apreendem
Outros rezam que o deixemos
Deixo a gaiola aberta
Para que haja ventilação
Uma coisa só é certa
Adeus se dá com a mão.
Colcha de Retalhos
Passo a vida recolhendo
Coisas soltas pelo chão
São pequenos fragmentos
Do foi uma emoção
São pedaços de carinho
Resquícios de um beijo
Esquecidos no caminho
O que um dia foi desejo
Os recolho e os guardo
Em um saco de filó
E no sossego de meu quarto
Os transformo em um só
E assim eu vou formando
Uma colcha de retalhos
O tempo todo admirando
O que forma meu trabalho
E a colcha eu penduro
Para quem quiser olhar
Como amostra do futuro
Ou do que irá sobrar.
Liberdade
Fecha teus olhos tristes
Liberta a tua alma
Apaga tudo que vistes
Descansa o coração na calma
Descarrega os teus problemas
Enxuga o rosto molhado
Procure um outro tema
Deixe de ser imolado
Se deixe deitar no vento
Sinta calor no frio
Abandone este convento
Embarque em outro navio
Receba o que for novo
Se desprenda do passado
Festeje um ano novo
A cada minuto cessado
É muito curta a vida
Para levarmos problemas
Esqueça suas feridas
Deixemos estes dilemas.